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[21/08/2018 - 13:38] Empreendedores encaram desafio de abrir negócio com o mínimo de capital

Prática conhecida como bootstrapping apresenta mais riscos, mas evita interferência de investidores



Sem investimentos de terceiros, alguns empreendedores encaram o desafio de abrir um negócio com o mínimo de capital necessário para operar. Já em atividade e gerando caixa, o faturamento é reaplicado na própria empresa. Esta prática é conhecida como bootstrapping. Segundo um estudo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) publicado em julho, apenas 0,81% das mais de mil startups entrevistadas iniciaram desta forma.



O diretor executivo da associação, Rafael Ribeiro, explica que o motivo para esse número tão baixo é a dificuldade de conquistar mercado com pouco capital. “É preciso preparar a empresa muito bem financeiramente para ter saúde monetária para reinvestir, caso contrário o negócio não vai para frente.”



O levantamento apontou também que 76,22% das startups brasileiras começaram com reservas relativamente grandes dos sócios. Ribeiro comenta que na teoria, este formato é bem diferente do bootstrapping, mas, na prática, os dois acabam se cruzando. “Nenhum dos dois formatos utiliza investimento de terceiros.” De forma mais simples, o bootstrapping caracteriza-se pela disponibilidade do mínimo de capital para iniciar as operações. Quando utilizadas reservas dos sócios, normalmente, são quantias maiores.



Outras 9,28% receberam investimento de anjos; 4,29%, de aceleradoras; e 1,39%, de venture capital. Os demais 8,01% representam formatos como financiamento bancário e crowdsourcing (contribuição colaborativa).



Ponto de vista



Mesmo começando sem capital de terceiros, é possível que, bem administrada, a startup conquiste mercado e, posteriormente, participe de alguma rodada de investimento. O professor de empreendedorismo Marcelo Nakagawa, do Insper, comenta que começar com recursos próprios permite que o empreendedor tenha domínio do negócio e mais autonomia nas decisões.



Foi com bootstrapping que a startup de cursos online Descola iniciou suas operações há cinco anos, em 2013. Segundo o CEO, André Panesi, começar sem capital de terceiros permitiu que os sócios adquirissem um conhecimento da empresa como um todo e, por necessidade, passassem por todas as etapas. “O aprendizado de não ter investimento é não gastar antes de ter e aprender a gastar sabiamente.”



Da mesma forma que esta prática pode trazer benefícios ao empreendedor, é preciso muita disciplina para conter gastos e investir quantias maiores somente quando necessário. Nakagawa explica que contratar funcionários mais experientes e aumentar a base de clientes com campanhas de marketing são as ações que exigem maior capital das startups.



A fintech de investimento Aplicativo Renda Fixa também inaugurou suas operações sem capital de terceiros, em 2014. O CEO e fundador, Francis Wagner, explica que atualmente não consegue expandir o negócio e contratar funcionários mais qualificados por falta de verba. O empresário também sente falta de ter ao lado investidores experientes para auxiliar nas decisões.



Contar com alguém que possa agregar experiência e conhecimento para o negócio pode ser um fator ainda mais importante do que somente o capital. Nakagawa analisa que um investidor que conhece a área de atuação da startup estará muito mais preparado para ser um parceiro de negócios. “O dinheiro pelo dinheiro muitas vezes é ruim, porque se ele está vindo só pelo capital é somente isso que ele cobrará de volta”, afirma.



Em um contexto geral, o professor recomenda que o empreendedor busque o máximo de crescimento da startup sem precisar de capital de terceiros. Isso normalmente acontece com negócios de alto potencial e que geram muito caixa a ponto de não precisarem do investidor. Conseguir segurar o crescimento pode fazer com que uma negociação de valor seja maior do que logo no início. A participação negociada também pode ser menor, garantindo maior autonomia do empreendedor.



FONTE: DCI - Diário Comércio Indústria & Serviços






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